Para explicar a relação entre os personagens de “Tudo novo de novo”, seriado da Globo, seria preciso um infográfico, como se diria apelando para o jargão de jornal. Mas não é tão complicado como parece: trata-se de uma família como quase todas as que conhecemos. Pai e mãe são separados, há filhos de vários casamentos, conflitos inevitáveis, e a vontade de acertar de quem encontra um novo amor e não quer — ou acha que já não tem o direito — repetir erros. A história de Lícia Manzo retrata as vicissitudes do cotidiano de um casal banal. Miguel é engenheiro (Marco Ricca), Clara (Júlia Lemmertz), arquiteta. Ela tem dois filhos, ele, uma menina. Os ex-cônjuges Paulo (Guilherme Fontes) e Ruth (Arieta Correia) não ajudam a desenguiçar a engrenagem familiar. A empregada de Júlia, Salete (Analu Prestes), é uma figura fundamental no dia a dia.
A pergunta inevitável: o que é novo nisso tudo? Praticamente nada. Famílias recompostas e mulheres que têm mil braços para abraçar inúmeras tarefas profissionais e domésticas são figuras corriqueiras, não é de hoje. Já nos anos 70, grande parte das famílias tinha este desenho. Ainda assim, se o título “Tudo novo de novo” faz promessas falsas, o que se vê ali é bem verdadeiro. Trata-se de um programa bem-feito que emociona seja pela direção competente de Denise Saraceni (nenhuma surpresa), seja pelo elenco. Júlia Lemmertz, atriz madura, mostra o talento e as rugas, sem medo, com entrega e sinceridade. Só o trabalho dela já seria motivo suficiente para o público conferir o seriado. Mas há ainda Marco Ricca, também com total domínio de cena. Entre as crianças, Poliana Aleixo (Júlia) e Daniela Piepszyk (Carol) são dois achados, com interpretações excelentes, longe do modelo treinadinho que se costuma ver na TV.
“Tudo novo de novo” diz a verdade, com propriedade e bons diálogos. Só não é novo.
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