Ter TV em casa é um fator de redução no número de filhos, já dizia a máxima universal, mas, no Brasil, o efeito é maior quando a TV exibe novela da Globo. Principalmente nas famílias de menor renda.´A constatação é do estudo Soap Operas and Fertility: Evidence from Brazil, que cruzou dados de censos demográficos com os do avanço da cobertura da rede de televisão pelo território nacional ao longo de três décadas.Alberto Chong, Eliana La Ferrara e Suzanne Duryea, os autores, mostram evidências de que as famílias urbanas, pequenas e felizes retratadas nas tramas globais tiveram forte influência sobre a redução da taxa de fertilidade, que caiu de 6,3 crianças por mulher em 1960 para 2,3 em 2000.
Mais do que valorizar métodos contraceptivos - o que não foi muito encorajado em boa parte destas três décadas -, as novelas venderam um modelo, copiado até mesmo no nome dado aos filhos dos casais telespectadores.
Novelas importadas não tiveram a mesma influência. Isso mostra como as tramas bem ambientadas na cultura local têm um grande poder de mudança de hábitos. É um dado importante para quem trabalha com projetos de merchandising social.
Não se pode desprezar, por outro lado, o poder do telespectador em influenciar e modelar as tramas das novelas. “É a chamada causalidade reversa”, explica Chong em sua resposta a uma questão que lhe fiz. “De fato, isso pode ter ocorrido.”
O resultado do estudo pode lisonjear a Globo, mas um detalhe lá no meio reforça a tese de que as novelas são um fator de sexualização precoce e aumento de risco de gravidez na adolescência. A faixa etária de 15 a 24 anos foi a única em que as mulheres brasileiras tiveram um nítido aumento de fertilidade no período pesquisado.